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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Como alugar apartamentos de temporada no exterior (Ricardo Freire)

 ALUGANDO APARTAMENTOS NO EXTERIOR


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Ano passado fiz uma longa viagem para revisitar nove cidades essenciais: Lisboa, Madri, Barcelona, Roma, Paris, Amsterdã, Berlim, Londres e Nova York. Na maioria delas passei uma semana inteira. Em nenhuma dormi em hotel. Em cada uma das cidades aluguei um apartamento charmoso, pelo preço que me custaria um hotel sem-graça. No lugar dos corredores intermináveis de um hotelão tipo Ibis ou do quarto acanhado de um pequeno duas-estrelas, eu tinha sala de estar, cozinha completa – e um molho de chaves.
Fugir do hotel para o apartamento de temporada não é para todo mundo, nem para todo tipo de viagem. Mas se você pretende permanecer pelo menos cinco dias numa cidade e quer rechear sua rotina de turista com algumas experiências que só os moradores vivem, então o aluguel de apartamento pode mudar o seu jeito de viajar.
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Alugar apartamento é a nossa vingança contra o downgrade de hospedagem a que temos sido forçados pela desvalorização do real e pela escalada de preços das diárias dos hotéis. Nos últimos dez anos, enquanto o preço das passagens aéreas internacionais permaneceu estável em dólar, os hotéis dobraram ou triplicaram de preço, tornando-se o item mais caro de uma viagem internacional. Entretanto, a mesma bolha imobiliária que fez explodir as diárias dos hotéis também acabou fazendo surgir um enorme mercado de apartamentos para curtíssima locação. Graças à evolução da internet, apartamentos para alugar no mundo inteiro estão a alguns cliques das suas próximas férias.
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Como funciona?
Procurar apartamento de temporada no exterior não é muito diferente de procurar um apartamento na sua cidade. É preciso paciência para vasculhar diversas imobiliárias; a diferença é que elas estão na internet, e apresentam suas ofertas em inglês. Os recursos de busca variam de site para site – mas todos mostram fotos e informam localização e preço. Escolhido o apartamento, você preenche um formulário para confirmar a disponibilidade nas datas que deseja.
Para fechar negócio, é exigido um depósito – entre 30 e 40% do total. A maioria das agências aceita cartão de crédito. Algumas poucas, porém, só operam comPayPal, um sistema de transferência de fundos por cartão de crédito muito usado em sites com o eBay; se este for o caso, você vai precisar abrir uma conta no sitePayPal.com.
O depósito normalmente corresponde à taxa da imobiliária. Assim que o pagamento é feito, a agência notifica o proprietário, que então entra em contato, por email, para combinar os detalhes da sua chegada. O saldo deve ser pago em dinheiro vivo, na entrega das chaves. Dependendo do contrato, deixa-se também uma caução, que é devolvida na sua saída.
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Em que sites procurar?
O melhor ponto de partida é mesmo o Google. Digite, entre aspas, as palavras mágicas “vacation rentals” e, fora das aspas, o nome da cidade desejada, em inglês. Na primeira página vão aparecer os sites mais quentes. Faça uma segunda pesquisa, com o nome da cidade seguido de “apartments”. Pronto. Você já tem com o que brincar por uma semana.
Prepare-se para ver de tudo: de lixo total ao deslumbre absoluto, com preços de acordo. A maioria dos sites oferece uma coleção desparelhada, misturando apartamentos de decoração minimalista (sinal de que são mantidos apenas para alugar) com apartamentos lotados de tralhas (sinal de que o dono mora lá e só sai quando o apê é alugado). Alguns (poucos) sites ostentam apartamentos muito parecidos entre si – indício de que todos pertencem à agência.
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É seguro?
Não dá para garantir 100% de segurança, porque é impossível pôr a mão no fogo por tantos proprietários avulsos. De todo modo, conduzir o processo por uma imobiliária sempre é menos arriscado do que tratar direto com o dono. Trocar vários e-mails antes de chegar – perguntando detalhes, pedindo dicas – ajuda a assegurar que o seu apartamento existe e estará disponível na data combinada.


Conselhos úteis:
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Entenda a cidade. Para ter sucesso em sua busca, é preciso pesquisar antes sobre a cidade para onde vai viajar. Uma eventual má localização acaba comprometendo todos os pontos positivos que um apartamento possa ter. Jogue o endereço do apartamento no Google Maps (mesmo que o site não forneça o número exato do prédio) e confira a distância do centro e do metrô. Veja se a linha é interessante no site UrbanRail, que traz todos os metrôs do mundo.
Quanto mais tempo, mais barato. Em muitas agências, a diária fica mais em conta a partir de sete dias de permanência – e cai ainda mais se você ficar 14 ou 28 noites. Isso acontece porque a taxa de intermediação das imobiliárias costuma ter um teto, barateando as permanências longas.
Quer economizar ainda mais? Durma na sala. A economia mais dramática em comparação a hotéis acontece quando você viaja em grupo e aluga um apartamento com sofá-cama na sala. Leve em conta, porém, as conseqüências de dividir um pequeno banheiro entre muitos ocupantes.
Internet é mais importante do que TV. Prefira apartamentos com banda larga instalada; eles são cada vez mais comuns. Leve um laptop e você vai poder conferir todos os seus trajetos, comprar ingressos e passagens, reservar horários de visita em museus, checar a meteorologia e falar pelo Skype com o pessoal que ficou no Brasil.
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Pegadinhas da chegadaO momento mais delicado de toda a operação é a chegada. Hotéis sempre têm recepção, sofá, lugar para guardar as malas; já a sala de espera de um apartamento de aluguel é a calçada ao relento. O check-in se torna, forçosamente, um encontro com hora marcada. Como aviões (e até trens) atrasam, normalmente combina-se que o inquilino ligue para o proprietário ou agente assim que tiver chegado e desembaraçado sua bagagem. Para isso você vai precisar levar seu celular ou comprar um cartão telefônico ao chegar – e se entender numa língua estrangeira ao telefone (fique tranqüilo: seu interlocutor está acostumado). Se você pretende usar transporte público para chegar ao apartamento, peça por email instruções detalhadas de percurso – por exemplo: não basta saber em que estação descer; é preciso saber qual saída da estação tomar.
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Viva o slow travel
Alugar apartamento diminui naturalmente o ritmo da sua viagem. A primeira tarde é perdida no reconhecimento do terreno: é preciso entender os eletrodomésticos e sair às compras para estocar a geladeira e o armário. Você vai ficar em casa muito mais tempo do que ficaria num hotel – caprichando no café, fazendo uma ou outra refeição, ou ainda esperando a chuva passar.
Aproveite: esta é a oportunidade que você tem de escapulir da overdose de museus e monumentos e lugares recomendados (pela mídia, pelos amigos) que atormenta nossas viagens. Todo apartamento de aluguel vem com um anexo fascinante e desconhecido: um bairro. Familiarizar-se com as redondezas é tão interessante quanto destrinchar um museu.
Lembra como quase todos os restaurantes e cafés próximos a hotéis parecem artificiais e turísticos? Pois todos os restaurantes e cafés próximos a seu apartamento vão parecer autênticos. É provável que você desista de fazer incursões gastronômicas complicadas, quando pode resolver tudo perto de casa.
Ficando mais tempo numa mesma base, você pode fazer passes vantajosos de transporte público. Pode espalhar as visitas a museus e monumentos ao longo da estada – ou concentrar as obrigações em poucos dias, tirando os outros para apenas flanar. Quer mudar de ares? Pegue um trem e passe um dia numa cidade próxima, sem carregar malas nem perder tempo achando hotel.
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Pegadinhas da saída
Não programe a sua partida para muito cedo – algumas agências se recusam a mandar inspetores antes das 8 da manhã, e você vai ter dificuldade de reaver sua caução. Veja no seu contrato se a luz e o telefone são cobrados à parte; se forem, você vai precisar ter dinheiro trocado para acertar a conta. Se o seu trem ou avião só partir tarde da noite, informe-se antes onde pode deixar as malas; são raríssimas as agências que se oferecem para guardar malas até mais tarde.
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Você vai sentir saudades de hotel quando...- Chegar à porta do prédio e a pessoa encarregada de trazer as chaves atrasar
- Subir três andares de escadas com malas
- Precisar lavar a louça do café
- Descobrir que a toalha não secou desde o último banho
- Sujar o chão da cozinha
- Chegar de um dia na rua e encontrar a cama desarrumada
Você não vai sentir saudades de hotel quando...
- Encher a geladeira e a despensa com frutas finas, queijos e vinhos a preço de supermercado
- Não precisar colocar “Do not disturb” na porta
- Ficar lendo na sua sala numa manhã gelada e chuvosa
- Brincar de chef com ingredientes de primeiro mundo
- Chamar uma pizza tarde da noite
- Tiver um pátio, um terraço ou uma varanda sem pagar uma fortuna por isso

Relatório de viagem mrgreen -- os apartamentos que eu aluguei na viagem do ano passado
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LISBOA
O apê: quarto, sala, cozinha americana, pátio. Um andar de escadas. 85 euros.
OndeTraveling to Lisbon.
O bairro: Príncipe Real, residencial, charmoso e colado ao Bairro Alto, quartel-general da noite lisboeta.
Muito giro: a localização, num ponto adorável de Lisboa.
Muito chato: a banda larga tinha sido desinstalada, e a agente levou uma manhã inteira até conseguir instalar uma placa de celular no laptop
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MADRI
O apê
: duplex – sala, cozinha americana e quarto embaixo; e um pequeno terracinho na cobertura. Elevador. 100 euros.
OndeRentMadrid
O bairro: Malasaña, animado e pouco turístico, a dois passos da Plaza Mayor e da movida de Chueca
Me encanta: tomar café da manhã no terraço ensolarado
Me mata: a inspeção final foi feita depois da saída, e a agência demorou um mês para devolver os 200 euros da caução, por PayPal
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BARCELONA
O apê
: loftzinho moderno num edifício antigo. 2 andares de escada. 100 euros.
OndeFriendly Rentals
O bairro: Born, antiga zona portuária que hoje é o Baixo Leblon de Barcelona
Qué bueno: sair de casa, dobrar uma esquina e estar no lugar mais bacana da cidade
Qué malo: mesmo com o apartamento desocupado desde a noite anterior, a agência não permitiu o check-in de manhã
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ROMA
O apê: sala grande, quarto, cozinha separada. Terraço comunitário no topo do prédio. Um andar de escada. 85 euros.
OndeVRBOO bairro: um canto sossegado do pitoresco Trastevere
Bravissimo: ouve-se mais italiano do que inglês na vizinhança (uma raridade para o centro histórico de Roma)
Porca miseria: é preciso passar pela cozinha para chegar ao banheiro
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PARIS
O apê
: quarto, sala, cozinha num prédio de 600 anos. 3 andares de escada. Nome na porta. 48 euros (no contrato de 28 dias).
OndeNYHabitat (a dona não permite a publicação do link exato)
O bairro: Les Halles, num ponto mal-encarado da rue St.-Denis, entre sex-shops e prostitutas sexagenárias, mas perto de tudo
Très bien: os restaurantes sem turistas da rue Tiquetonne (uma transversal) e as padarias, queijarias, açougues, peixarias, mercearias e caves da rue Montorgueil (uma paralela)
Très mal: o sono leve da vizinha de baixo, que reclamava até do barulho de passos
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AMSTERDÃ
O apê: a metade de uma casa-barco estacionada no canal Waalseiland. 120 euros.
OndeAmsterdam House Boat 
O bairro: Niewmarkt, vizinho careta do Bairro da Luz Vermelha.
Lekker!: ver o pessoal dos barcos de passeio olhar com curiosidade para dentro da nossa casa
Kak!: precisar ir embora no último dia
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BERLIM
O apê: loft com pé direito alto e pátio interno num prédio comunista dos anos 50. Térreo. 100 euros.
OndeAll-Berlin-Apartments
O bairro: Friedrichshain, a nova fronteira dos modernos em Berlim Oriental
Wunderbar: foi o apartamento mais bonito e bem-resolvido da viagem
Kaputt: a muvuca do bairro é jovem demais e está longe do apartamento; teria sido melhor procurar em Prenzlauer Berg
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LONDRES
O apê: quarto, sala, cozinha separada, num típico predinho londrino. Dois andares de escada. 70 libras.
OndeNYHabitat (não está mais listado lá)
O bairro: Bethnal Green, reduto de imigrantes em East London, próximo à Brick Lane
Jolly good: uma ótima base para descobrir as novidades do leste londrino, a parte da cidade que está acontecendo
Bloody hell: a internet por celular mais lenta do planeta
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NOVA YORK
O apê: studiozinho clean, com cama facilmente disfarçada de sofá. 2 andares de escada. 180 dólares.
OndeVacation Home Rentals
O bairro: Chelsea, epicentro da cena gay, fora da rota dos turistas de Midtown e de Downtown
Awesome: pós-crise, a diária chegou a baixar para 120 dólares (agora está 160)
Not so good: os trens expressos não param na estação de metrô mais próxima

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