Rodrigo Gomes, 28, queria impressionar a namorada no aniversário de três anos do casal. Executivo de uma empresa multinacional, ele estava sem tempo para escolher um programa diferente. Então resolveu pedir ajuda de uma empresa de concierge pessoal.
Mandou um e-mail e, na data certa, contava com reservas em um restaurante e com um hotel para passarem a noite. "Tivemos um dia inteiro de programação montada por eles", conta.
Secretários de Luxo
Andrea Cotrim recebe uma mala com roupas para provar em casa ou no trabalho
Desde então, Rodrigo sempre recorre a Natália Bonavita, 29, uma das sócias da DueB, para comprar ingressos para shows e eventos e para fazer reservas em restaurantes. O executivo também usou o serviço para adquirir entradas para os jogos entre Uruguai e Inglaterra e entre Holanda e Argentina durante a Copa do Mundo.
Rodrigo é um dos muitos executivos que recorrem a serviços que economizem tempo e se adaptem à sua rotina turbulenta.
Com MBA em gestão empresarial, Luciana Lima, 44, começou a trabalhar como concierge pessoal há cinco anos. Desde então, a procura cresceu tanto que ela passou a formar profissionais na área. "Como eu criei uma das primeiras empresas, me procuravam informalmente pedindo dicas e informações de mercado", diz.
"A demanda cresceu tanto que priorizei esse nicho de cursos e formação."
O chef Luis Fernando Perin, 46, que prepara refeições na casa dos clientes, também tem percebido a tendência -os jantares particulares que faz mais do que dobraram nos últimos dois anos. "As pessoas não querem perder tempo no trânsito, na fila e ainda correr o risco de ser vítima em um arrastão", diz.
Seus clientes em geral são pessoas que montaram em casa cozinhas com muitos utensílios e recursos, mas acabam não tendo horas livres para cozinhar.
"Há alguns, principalmente casais, que pedem só para fazermos a comida e irmos embora, eles mesmos se servem", diz Luiz.
ENTREGA
A dentista e empresária Andrea Cotrim, 48, usa há dois anos o serviço de entrega de roupas da loja Troá, no Itaim Bibi. Como trabalha das 8h às 21h, ela recebe uma malinha com diversas opções em casa ou no escritório. Andrea fica com as roupas durante dois dias para prová-las e o pagamento é feito com cartão de crédito. "Hoje em dia eu nem preciso pedir. Quando chega uma coleção nova, a loja manda. Também faço compra de presentes", diz.
O serviço, que começou há três anos, hoje é responsável por 60% das vendas da loja. Na Spezzato, na Vila Nova Conceição, já corresponde a 40%. E o rol de lojas da cidade que oferece esse tipo de mimo tem aumentado. A Rocha Paris, em Higienópolis, começou a entregar no mês passado.
A empresa Mommy Concierge também entrega roupas -mas de bebê, compradas em Miami e Orlando, para mães que não conseguem largar o trabalho ou encontrar tempo para montar o enxoval.
Outra estratégia para atrair esse tipo de cliente é, em vez de levar tudo em casa, reunir diversos serviços no mesmo lugar. No spa Cidade Jardim, por exemplo, além dos tratamento de beleza e relaxamento,
o cliente pode passar por consultas com endocrinologista, dermatologista e nutricionista. E fazer os exames na unidade laboratorial do hospital Albert Einstein no local.
A mordomia não sai barato. O spa tem preços acima da média, com a massagem mais em conta por R$ 200 (sessão de 60 minutos). Os jantares particulares do chef Luiz costumam sair por volta de R$ 500 por pessoa. "Quanto menos pessoas no grupo, mais caro fica por cabeça", explica. Para os ingressos, é cobrada uma taxa de conveniência. E, para os serviços periódicos, os concierges cobram um plano -o valor não é divulgado, só sob consulta.
ENSINA-ME A BEBER
Há quem peça ajuda até para economizar tempo na hora de formar opinião. Há mais de quatro anos, o empresário Paulo Hemerson de Moraes, 32, recebe em casa pelo menos quatro garrafas de vinho por mês, selecionadas por um sommelier particular. "Conhecer vinhos e gastronomia é essencial para os negócios hoje em dia, para causar uma boa impressão em reuniões e encontros. Mas onde vou encontrar tempo para pesquisar e comprar?"
O serviço da loja Sonoma pode ser comparado a um clube de vinhos, mas que seleciona as garrafas para cada cliente. E o sommelier dá dicas de harmonização.
"Às vezes tenho um jantar ou evento, digo qual tipo de comida terá e eles me indicam o vinho e entregam com o pacote mensal", explica Paulo.
O empresário já usava o concierge do cartão de crédito há anos quando conheceu o de vinhos. "Escolhi a marca do meu cartão justamente por causa de assistência que eles oferecem. Quando estou em um evento no exterior e preciso receber alguém, ligo e eles indicam o hotel e resolvem o problema".
Outros, como Freddy Hermann, diretor de uma marca de móveis, correm contra o tempo até para coisas mais básicas como aulas de inglês -nos dias mais atribulados, principalmente quando está viajando, ele conversa com o professor por Skype.
Viajar muito é uma característica comum dos clientes desse tipo de serviço, explica Luciana Lima. "Mesmo que as empresas ofereçam toda a infraestrutura para as viagens, as pessoas sempre têm necessidades específicas."
Chamada para cuidar do bem-estar de convidados em um evento internacional, Natália, da DueB, já recebeu, no meio de uma festa em uma fazenda na Toscana, pedidos de providenciar cigarros.
Outro exemplo é o "house sitting" -que vem de "baby sitting", ou seja, alguém que fica de babá da sua casa em outra cidade ou país.
"Tenho clientes com casa no exterior que gostam de chegar e encontrar a cama feita e a comida na geladeira", diz Natália. A empresa contrata empregada para limpar, abrir as janelas, conferir os alarmes e cuidar do jardim. Outra troca o óleo do carro e checa se ele está com o tanque cheio. É a versão fru-fru do velho caseiro.